Luísa Cavalcanti Ribeiro, 18 anos.
Profissão: Estudante.
O que pretende: Ser diplomata ou analista de comércio exterior.
País que conhece: Nova Zelândia.
Se me pedissem para
escolher uma só palavra, diria que a experiência de morar em outro país é extraordinária.
A sensação de que tudo, não só parece como é novo, transforma as mais simples
atividades cotidianas em algo interessante e surpreendente. Andar de bicicleta
ou pegar um ônibus, por exemplo, se torna uma aventura que vale a pena ser
lembrada e compartilhada com amigos e familiares. Morar no exterior, sozinha,
fez de mim uma pessoa mais independente e comunicativa, pois a saída da minha
zona de conforto deu sumiço à minha timidez. O conhecimento adquirido, as
amizades consolidadas e os passeios inesquecíveis, por si só, já fazem qualquer
lugar se tornar especial, mas com um cenário e com a cultura como os da Nova
Zelândia, minha experiência foi tudo menos negativa e/ou ‘normal’.
Como só vivi lá por
seis meses, não pude conhecer muito bem as cidades da ilha norte, como a famosa
Auckland e a capital Wellington. Porém, tenho certeza
que nada me surpreenderia mais que as cidades da ilha sul, então é
exatamente isso que eu vou recomendar. Christchurch, a cidade em que
eu morei, infelizmente, foi palco de um dos piores terremotos do país (e eu
estava lá durante o ocorrido - o que só agregou mais experiência ao meu
intercâmbio). Dunedin, cidade universitária com muito espírito
jovem. Queenstown, cenário de Senhor dos Anéis e capital do esporte
radical: Bungee jumping, Raft, Sky diving… Wanaka,
aconchegante e apaixonante; Franz Joseph, onde se pode andar no
gelo e explorar uma geleira no topo da montanha; Nelson, com suas
praias maravilhosas; Hanmer Springs e suas piscinas aquecidas
por vulcões naturais.
Os melhores lugares
para comprar roupas e sapatos são os malls, sempre com promoções e
descontos incríveis em várias lojas. Até nos mercados, como o Countdown e
o K-mart, dá pra encontrar muita coisa de qualidade e com preços
baixos. Duas lojas que conquistaram um lugar especial no meu coração foram a Glassons e
a Cotton On. Já para comprar artesanato, recomendo visitar a
famosíssima Green Stone da Nova Zelândia, que possuí o melhor
comércio em feiras Maoris, onde aos domingos ocorrem
exposições nas praças principais das cidades. Ou então, na porta de grande
parte dos pontos turísticos, estes produtos artesanais possuem qualidade e, por
ser feito à mão, são geralmente mais bonitos que produtos de lojas.
Como eu não tinha
a idade permitida para beber ou badalar, a vida noturna se resumia em house parties que meus amigos faziam no
esquema ‘bring your own (BYO)’ drink. Estes eventos ocorrem
frequentemente. O esquema é bem aberto e acolhedor, ninguém ficava de fora.
Fora isso, o bar Minus 5, em Queenstown, é imperdível
por ser tudo feito de gelo, desde os copos à decoração, inclusive os assentos.
Claro que dançar é necessário pra se manter aquecido, por isso a “vibe” é tão legal e empolgante. Eles
emprestam casaco e luvas, além de existir um tempo limite para ficar dentro,
mas a diversão é garantida do começo ao fim. Em Auckland, recomendo
visitar a Sky Tower à noite, pois além da vista com as luzes
da cidade ser de tirar o fôlego, o jantar é muito gostoso!
Infelizmente as
igrejas e museus que visitei em Christchurch, hoje, estão destruídos ou em
processo de reconstrução. Porém, o Hagley Park e Port
Hills são imperdíveis passeios ao ar livre, bem como a praia de Sumner
Beach. Os campos de mini golf e o
Riccarton Mall também são opções baratas e divertidas. Um dos passeios mais
legais é a já mencionada caminhada no gelo em Franz Joseph, e a
gôndola em Queenstown. Lá, há uma montanha que se sobe em um
bondinho, a descida pode ser feita tanto pulando de Bungee jumping,
como alugando carrinhos de corrida, fazendo curvas radicais e muito rápidas.
Também falando sobre Bungee jumping, a melhor coisa a se fazer é
comprar o pacote com os três (um que pula da ponte, um que pula dessa montanha
da gôndola e o maior do mundo, Nevis, que salta de uma plataforma). Todos eles
são passeios que, apesar de caros, valem muito a pena.
O safari do Senhor
dos Anéis, também localizado em Queenstown, é outro passeio
recomendável e muito elogiado por todos que conhecem, principalmente pelos fãs
da saga. Também tem um navio que atravessa a ilha norte em direção à ilha sul,
proporcionando cenários de tirar o fôlego e com duração máxima de 3 horas. Mas,
se eu fosse repetir algum, seria o de Milford Sound! São várias ilhas e cachoeiras,
parece um sonho, um paraíso. Para ir, existe tanto a opção de barco quanto a de
helicóptero. Há apenas um porém, lá chove quase todos os dias do ano. Por isso,
é necessário ir preparado com capa de chuva, botas, agasalhos… É possível até
ver focas e leão marinho de perto.
As comidas típicas da Nova Zelândia
são influenciadas pela cultura inglesa, como o famoso Fish ’n Chips (batata
frita com um peixe frito) - refeição barata e fácil de se encontrar em qualquer
lugar; a sobremesa Pavlova de kiwi ou de morango, e a carne de
ovelha. O churrasco, que eles chamam de BBQ, é bem diferente do
nosso: só assam carne e linguiça pra comer com um pedaço de pão de forma e
ketchup. Fora isso, eles comem muita comida chinesa e japonesa,
especialmente noodles.
O aspecto que mais me chamou a atenção foi em relação
a cultura Maori, com suas danças e idioma exótico, é algo muito
interessante de se conhecer! No esporte, o jogo de Rugby é uma
tradição para todos os meninos adolescentes, e em todo bairro é possível ver
parques lotados com jogos e treinos, assim como o futebol é para o Brasil. As
meninas jogam a versão menos violenta: o Touch Rugby. Já as músicas
típicas são do estilo surf e reggae. Os habitantes possuem o costume
de praticar muita atividade ao ar livre. Lá pratiquei Mountain Bike,
aprendi a andar de caiaque e acampei diversas vezes em montanhas. Além de
manter a população saudável, essas atividades são acessíveis e maravilhosas
para serem realizadas nos finais de semana. Um costume que notei ser bem
diferente dos hábitos brasileiro, foi o fato de lá eles não almoçarem, há
apenas um lanche durante o dia e a noite ocorre o encontro com a família para
jantar.
A quem deseja ir para lá, recomendo que tentem conhecer e se
aproximar dos neozelandeses. Além de praticar o inglês, é uma oportunidade de
fazer amizade com pessoas diferentes e incríveis. Não se fechar na sua própria
cultura é a melhor dica, e isso vale para qualquer lugar. Também sugiro que
abram a mente para praticar esportes lá, mesmo que sejam simples caminhadas ao
ar livre para observar a vista, o clima, a fauna e a flora do local. Para
se hospedar, os melhores e mais baratos locais são os hostels (albergues), onde é possível dividir quarto com até seis
pessoas, misto ou não. Eles têm ótimas localizações e uma programação muito boa
pra quem quer se aventurar e conhecer o melhor da Nova Zelândia, fora a facilidade
em conhecer gente de todos os cantos do mundo. Uma dica valiosa é alugar uma
mini van da Juicy, que vem com uma cozinha no porta malas.
O único momento que pensei em
desistir foi nos primeiros dias, quando eu não conhecia ninguém e não estava me
dando bem com minha host sister
alemã. Mas esta ideia só durou uma semana. Depois, nem um terremoto que
destruiu metade da cidade me fez querer desistir. Pelo contrário, neguei as
oportunidades que a empresa de intercambio ofereceu de mudar de cidade ou
voltar pro Brasil, e quanto mais o tempo passava, menos eu queria sair daquele
lugar, pois, na verdade, a Nova Zelândia se tornou minha casa. Hoje em
dia, tudo o que eu mais quero é voltar morar e trabalhar lá, enfim chamá-la de
“lar”. Aprendi a dar valor a coisas pequenas, que antes passavam
despercebidas. Voltei outra pessoa, mais humilde e menos egoísta. E, claro,
mais corajosa: “se nem um terremoto me destruiu, o que irá?!”
O que mais me
marcou nesta experiência foi a receptividade dos nativos, inclusive a forma com
que se uniram após o terremoto. Percebi a solidariedade entre eles, os vizinhos
se ajudavam mutuamente; houve inúmeras doações, preocupações com o próximo,
campanhas e grupos de limpeza nas ruas da cidade, enfim, nunca havia visto nada
tão altruísta e emocionante quanto aquilo. O memorial que fizeram em homenagem
aos falecidos, e todo o país em luto, prestando homenagens e minutos de
silêncio foi, sem dúvida, algo muito marcante e forte. Fiz mais amigos na
escola neozelandesa do que fiz ao longo da minha vida inteira.
Além disso, fui
muito bem recebida pelas quatro famílias, que me acolheram como pais. Não
imaginava ser tão bem tratada e me sentir uma pessoa tão interessante quanto
eles me fizeram sentir! A primeira família que fiquei era um casal de idosos,
que possuíam uma casa grande e, por isso, hospedavam três garotas: eu, uma
alemã e uma coreana. Depois do terremoto, a casa ficou muito destruída e
perigosa de se viver, então eles se mudaram para uma fazenda e nós três nos
separamos. Estava triste e sem lugar pra ir quando meu amigo me convidou pra me
hospedar na casa dele. Assim, a maior farra foi nesta casa, ele me levou para
sair, me apresentou seus amigos e eu tive uma “irmã” mais nova e outro “irmão”,
fora os “pais” acolhedores. Éramos seis, e ficou assim até o final. Porém, me
aproximei muito da família de outros dois amigos e, assim, me considerava uma
parte das três casas. Dividia minha atenção jantando cada dia com uma família,
e dormindo cada final de semana em um local diferente, foi ótimo! Ter me
relacionado com essas famílias me fez aprender sobre a dinâmica e rotina de
diversas pessoas, foi algo muito enriquecedor.
Mais do que
amizades, fiz irmãos e famílias que até hoje nos falamos sempre, trocamos
correspondências e novidades. Não poderia ter sido melhor. Nem tive tempo de
sentir saudade de amizades verdadeiras ou da minha verdadeira família, pois
tive tudo isso a todo momento! Mesmo em lojas, não percebi grosseria ou
antipatia da parte de ninguém! Cada pessoa que conheci contribuiu para minha
vida mais do que qualquer escola e curso poderiam contribuir. Apesar das
dificuldades de convivência com a minha host
sister alemã, com o tempo, tive que aprender a lidar com nossas diferentes
personalidades, pensamentos e cultura, e finalmente deixamos de ser inimigas
pra nos tornarmos melhores amigas. Sem dúvidas foi algo que me fez crescer como
pessoa, pois ainda hoje, antes de desistir de algo/alguém, me lembro que é
dando mais tempo e oportunidades que a pessoa consegue te surpreender!
Nas horas livres,
além dos passeios, me juntei ao time de basquete da escola, comecei a
frequentar aulas de zumba e um grupo jovem da Igreja. Tudo isso me deixou
ocupada ao ponto de não me dar tempo de sentir falta da minha vida e das
pessoas que deixei no Brasil, o que foi ótimo. Não cheguei a conhecer o
significado da palavra ‘homesick’. Esta experiência valeu tanto a
pena que se eu pudesse escolher voltar para somente um lugar no tempo, voltaria
para esta época lá. E, se eu pudesse realizar outra viagem internacional, eu
escolheria a Nova Zelândia novamente. Aprendi que, mesmo depois de ter estudado
inglês durante sete anos no Brasil, eu não sabia de nada. Concluí que a única
forma de ser fluente em inglês é praticando muito, e isso consequentemente
envolve sair da zona de conforto e buscar coisas novas.
Acredito que morar em outro país com
15 anos já requer, por si só, um amadurecimento. Ter obrigações na casa,
integrar um time e ter que se virar sozinha é um processo evolutivo muito
grande. Lidar com o desconhecido e se aventurar em coisas, lugares e pessoas
diferentes, requer muita confiança e crescimento, mas a recompensa é incrível.
Ao voltar para o Brasil, me deparei com muitas situações que eu não saberia
como lidar, caso não tivesse morado na Nova Zelândia e feito tudo o que fiz.
Inclusive, não teria escolhido estudar Relações Internacionais e não estaria
vivendo a vida que vivo hoje, então aqueles seis meses definiram não só o meu
caráter, como também meu futuro e carreira!
Faço parte de um
site chamado postcrossing, onde trocam-se cartas com pessoas
aleatórias de todos os lugares do mundo. Coleciono mais de 130 cartas e selos,
e me encanto com o que as pessoas me escrevem sobre suas rotinas e cidades.
Também trabalhei na AIESEC, maior organização jovem do mundo, que
busca o desenvolvimento das potencialidades humanas, através de experiências de
intercâmbio e de liderança. Através da organização, recebíamos muitos Trainee internacionais e lidávamos com
diversas culturas. Então, para mim, a melhor coisa que existe é essa troca de
conhecimentos direta entre culturas!
Após ver que lá os guardas não andam
armados e as casas não tem grades nem muros, vejo que o Brasil precisa investir
mais em segurança. Na realidade, o povo brasileiro deve adotar mais
honestidade, este é um fator que influenciará diretamente na qualidade de vida,
além de melhorar o sistema educacional. Na Nova Zelândia, o aluno pode escolher
no High School seis matérias que gostaria de estudar, (entre
as opções estão fotografia, culinária, design, entre outros). Este
fato torna a ida a escola algo muito prazeroso, e dá aos estudantes a
oportunidade de se descobrirem melhor e testar o que realmente farão no futuro.
Entretanto, gosto muito do carinho e receptividade dos
brasileiros, estamos sempre animados e temos, inclusive, um dos carnavais mais
famosos do mundo. Temos uma habilidade nata de se unir, seja através do futebol
ou das decepções políticas, seja para festejar ou para protestar. Multidões
aglomeradas não é algo que se vê com facilidade no exterior. Mas, gostaria
também que não fosse só festa e alegria, e que as pessoas realmente se
chocassem mais com os absurdos que cercam o Estado brasileiro. O ‘jeitinho
brasileiro’ de tentar se dar bem, e a cultura de se atrasar em compromissos, é
algo que eu gostaria que mudasse. A pontualidade das pessoas no exterior é algo
que facilita muito a vida!