terça-feira, 12 de novembro de 2013

Intercâmbio na Nova Zelândia: Dicas e vivências

Luísa Cavalcanti Ribeiro, 18 anos.
Profissão: Estudante.
O que pretende: Ser diplomata ou analista de comércio exterior.
País que conhece: Nova Zelândia.


    Se me pedissem para escolher uma só palavra, diria que a experiência de morar em outro país é extraordinária. A sensação de que tudo, não só parece como é novo, transforma as mais simples atividades cotidianas em algo interessante e surpreendente. Andar de bicicleta ou pegar um ônibus, por exemplo, se torna uma aventura que vale a pena ser lembrada e compartilhada com amigos e familiares. Morar no exterior, sozinha, fez de mim uma pessoa mais independente e comunicativa, pois a saída da minha zona de conforto deu sumiço à minha timidez. O conhecimento adquirido, as amizades consolidadas e os passeios inesquecíveis, por si só, já fazem qualquer lugar se tornar especial, mas com um cenário e com a cultura como os da Nova Zelândia, minha experiência foi tudo menos negativa e/ou ‘normal’.

Como só vivi lá por seis meses, não pude conhecer muito bem as cidades da ilha norte, como a famosa Auckland e a capital Wellington. Porém, tenho certeza que nada me surpreenderia mais que as cidades da ilha sul, então é exatamente isso que eu vou recomendar. Christchurch, a cidade em que eu morei, infelizmente, foi palco de um dos piores terremotos do país (e eu estava lá durante o ocorrido - o que só agregou mais experiência ao meu intercâmbio). Dunedin, cidade universitária com muito espírito jovem. Queenstown, cenário de Senhor dos Anéis e capital do esporte radical: Bungee jumpingRaftSky divingWanaka, aconchegante e apaixonante; Franz Joseph, onde se pode andar no gelo e explorar uma geleira no topo da montanha; Nelson, com suas praias maravilhosas; Hanmer Springs e suas piscinas aquecidas por vulcões naturais.



 
    



   Os melhores lugares para comprar roupas e sapatos são os malls, sempre com promoções e descontos incríveis em várias lojas. Até nos mercados, como o Countdown e o K-mart, dá pra encontrar muita coisa de qualidade e com preços baixos. Duas lojas que conquistaram um lugar especial no meu coração foram a Glassons e a Cotton On. Já para comprar artesanato, recomendo visitar a famosíssima Green Stone da Nova Zelândia, que possuí o melhor comércio em feiras Maoris, onde aos domingos ocorrem  exposições nas praças principais das cidades. Ou então, na porta de grande parte dos pontos turísticos, estes produtos artesanais possuem qualidade e, por ser feito à mão, são geralmente mais bonitos que produtos de lojas.

    Como eu não tinha a idade permitida para beber ou badalar, a vida noturna se resumia em house parties que meus amigos faziam no esquema ‘bring your own (BYO)’ drink. Estes eventos ocorrem frequentemente. O esquema é bem aberto e acolhedor, ninguém ficava de fora. Fora isso, o bar Minus 5, em Queenstown, é imperdível por ser tudo feito de gelo, desde os copos à decoração, inclusive os assentos. Claro que dançar é necessário pra se manter aquecido, por isso a “vibe” é tão legal e empolgante. Eles emprestam casaco e luvas, além de existir um tempo limite para ficar dentro, mas a diversão é garantida do começo ao fim. Em Auckland, recomendo visitar a Sky Tower à noite, pois além da vista com as luzes da cidade ser de tirar o fôlego, o jantar é muito gostoso!

    Infelizmente as igrejas e museus que visitei em Christchurch, hoje, estão destruídos ou em processo de reconstrução. Porém, o Hagley Park e Port Hills são imperdíveis passeios ao ar livre, bem como a praia de Sumner Beach. Os campos de mini golf e o Riccarton Mall também são opções baratas e divertidas. Um dos passeios mais legais é a já mencionada caminhada no gelo em Franz Joseph, e a gôndola em Queenstown. Lá, há  uma montanha que se sobe em um bondinho, a descida pode ser feita tanto pulando de Bungee jumping, como alugando carrinhos de corrida, fazendo curvas radicais e muito rápidas. Também falando sobre Bungee jumping, a melhor coisa a se fazer é comprar o pacote com os três (um que pula da ponte, um que pula dessa montanha da gôndola e o maior do mundo, Nevis, que salta de uma plataforma). Todos eles são passeios que, apesar de caros, valem muito a pena.
 
    O safari do Senhor dos Anéis, também localizado em Queenstown, é outro passeio recomendável e muito elogiado por todos que conhecem, principalmente pelos fãs da saga. Também tem um navio que atravessa a ilha norte em direção à ilha sul, proporcionando cenários de tirar o fôlego e com duração máxima de 3 horas. Mas, se eu fosse repetir algum, seria o de Milford Sound! São várias ilhas e cachoeiras, parece um sonho, um paraíso. Para ir, existe tanto a opção de barco quanto a de helicóptero. Há apenas um porém, lá chove quase todos os dias do ano. Por isso, é necessário ir preparado com capa de chuva, botas, agasalhos… É possível até ver focas e leão marinho de perto.





 
   As comidas típicas da Nova Zelândia são influenciadas pela cultura inglesa, como o famoso Fish ’n Chips (batata frita com um peixe frito) - refeição barata e fácil de se encontrar em qualquer lugar; a sobremesa Pavlova de kiwi ou de morango, e a carne de ovelha. O churrasco, que eles chamam de BBQ, é bem diferente do nosso: só assam carne e linguiça pra comer com um pedaço de pão de forma e ketchup. Fora isso, eles comem muita comida chinesa e japonesa, especialmente noodles.

     O aspecto que mais me chamou a atenção foi em relação a cultura Maori, com suas danças e idioma exótico, é algo muito interessante de se conhecer! No esporte, o jogo de Rugby é uma tradição para todos os meninos adolescentes, e em todo bairro é possível ver parques lotados com jogos e treinos, assim como o futebol é para o Brasil. As meninas jogam a versão menos violenta: o Touch Rugby. Já as músicas típicas são do estilo surf e reggae. Os habitantes possuem o costume de praticar muita atividade ao ar livre. Lá pratiquei Mountain Bike, aprendi a andar de caiaque e acampei diversas vezes em montanhas. Além de manter a população saudável, essas atividades são acessíveis e maravilhosas para serem realizadas nos finais de semana. Um costume que notei ser bem diferente dos hábitos brasileiro, foi o fato de lá eles não almoçarem, há apenas um lanche durante o dia e a noite ocorre o encontro com a família para jantar.

   A quem deseja ir para lá, recomendo que tentem conhecer e se aproximar dos neozelandeses. Além de praticar o inglês, é uma oportunidade de fazer amizade com pessoas diferentes e incríveis. Não se fechar na sua própria cultura é a melhor dica, e isso vale para qualquer lugar. Também sugiro que abram a mente para praticar esportes lá, mesmo que sejam simples caminhadas ao ar livre para observar a vista, o clima, a fauna e a flora do local.  Para se hospedar, os melhores e mais baratos locais são os hostels (albergues), onde é possível dividir quarto com até seis pessoas, misto ou não. Eles têm ótimas localizações e uma programação muito boa pra quem quer se aventurar e conhecer o melhor da Nova Zelândia, fora a facilidade em conhecer gente de todos os cantos do mundo. Uma dica valiosa é alugar uma mini van da Juicy, que vem com uma cozinha no porta malas.



O único momento que pensei em desistir foi nos primeiros dias, quando eu não conhecia ninguém e não estava me dando bem com minha host sister alemã. Mas esta ideia só durou uma semana. Depois, nem um terremoto que destruiu metade da cidade me fez querer desistir. Pelo contrário, neguei as oportunidades que a empresa de intercambio ofereceu de mudar de cidade ou voltar pro Brasil, e quanto mais o tempo passava, menos eu queria sair daquele lugar, pois, na verdade, a Nova Zelândia se tornou minha casa.  Hoje em dia, tudo o que eu mais quero é voltar morar e trabalhar lá, enfim chamá-la de “lar”. Aprendi a dar valor a coisas pequenas, que antes passavam despercebidas. Voltei outra pessoa, mais humilde e menos egoísta. E, claro, mais corajosa: “se nem um terremoto me destruiu, o que irá?!”

    O que mais me marcou nesta experiência foi a receptividade dos nativos, inclusive a forma com que se uniram após o terremoto. Percebi a solidariedade entre eles, os vizinhos se ajudavam mutuamente; houve inúmeras doações, preocupações com o próximo, campanhas e grupos de limpeza nas ruas da cidade, enfim, nunca havia visto nada tão altruísta e emocionante quanto aquilo. O memorial que fizeram em homenagem aos falecidos, e todo o país em luto, prestando homenagens e minutos de silêncio foi, sem dúvida, algo muito marcante e forte. Fiz mais amigos na escola neozelandesa do que fiz ao longo da minha vida inteira.

    Além disso, fui muito bem recebida pelas quatro famílias, que me acolheram como pais. Não imaginava ser tão bem tratada e me sentir uma pessoa tão interessante quanto eles me fizeram sentir! A primeira família que fiquei era um casal de idosos, que possuíam uma casa grande e, por isso, hospedavam três garotas: eu, uma alemã e uma coreana. Depois do terremoto, a casa ficou muito destruída e perigosa de se viver, então eles se mudaram para uma fazenda e nós três nos separamos. Estava triste e sem lugar pra ir quando meu amigo me convidou pra me hospedar na casa dele. Assim, a maior farra foi nesta casa, ele me levou para sair, me apresentou seus amigos e eu tive uma “irmã” mais nova e outro “irmão”, fora os “pais” acolhedores. Éramos seis, e ficou assim até o final. Porém, me aproximei muito da família de outros dois amigos e, assim, me considerava uma parte das três casas. Dividia minha atenção jantando cada dia com uma família, e dormindo cada final de semana em um local diferente, foi ótimo! Ter me relacionado com essas famílias me fez aprender sobre a dinâmica e rotina de diversas pessoas, foi algo muito enriquecedor.
 
    Mais do que amizades, fiz irmãos e famílias que até hoje nos falamos sempre, trocamos correspondências e novidades. Não poderia ter sido melhor. Nem tive tempo de sentir saudade de amizades verdadeiras ou da minha verdadeira família, pois tive tudo isso a todo momento! Mesmo em lojas, não percebi grosseria ou antipatia da parte de ninguém! Cada pessoa que conheci contribuiu para minha vida mais do que qualquer escola e curso poderiam contribuir. Apesar das dificuldades de convivência com a minha host sister alemã, com o tempo, tive que aprender a lidar com nossas diferentes personalidades, pensamentos e cultura, e finalmente deixamos de ser inimigas pra nos tornarmos melhores amigas. Sem dúvidas foi algo que me fez crescer como pessoa, pois ainda hoje, antes de desistir de algo/alguém, me lembro que é dando mais tempo e oportunidades que a pessoa consegue te surpreender!
 

    Nas horas livres, além dos passeios, me juntei ao time de basquete da escola, comecei a frequentar aulas de zumba e um grupo jovem da Igreja. Tudo isso me deixou ocupada ao ponto de não me dar tempo de sentir falta da minha vida e das pessoas que deixei no Brasil, o que foi ótimo. Não cheguei a conhecer o significado da palavra ‘homesick’. Esta experiência valeu tanto a pena que se eu pudesse escolher voltar para somente um lugar no tempo, voltaria para esta época lá. E, se eu pudesse realizar outra viagem internacional, eu escolheria a Nova Zelândia novamente. Aprendi que, mesmo depois de ter estudado inglês durante sete anos no Brasil, eu não sabia de nada. Concluí que a única forma de ser fluente em inglês é praticando muito, e isso consequentemente envolve sair da zona de conforto e buscar coisas novas.


   Acredito que morar em outro país com 15 anos já requer, por si só, um amadurecimento. Ter obrigações na casa, integrar um time e ter que se virar sozinha é um processo evolutivo muito grande. Lidar com o desconhecido e se aventurar em coisas, lugares e pessoas diferentes, requer muita confiança e crescimento, mas a recompensa é incrível. Ao voltar para o Brasil, me deparei com muitas situações que eu não saberia como lidar, caso não tivesse morado na Nova Zelândia e feito tudo o que fiz. Inclusive, não teria escolhido estudar Relações Internacionais e não estaria vivendo a vida que vivo hoje, então aqueles seis meses definiram não só o meu caráter, como também meu futuro e carreira!

    Faço parte de um site chamado postcrossing, onde trocam-se cartas com pessoas aleatórias de todos os lugares do mundo. Coleciono mais de 130 cartas e selos, e me encanto com o que as pessoas me escrevem sobre suas rotinas e cidades. Também trabalhei na AIESEC, maior organização jovem do mundo, que busca o desenvolvimento das potencialidades humanas, através de experiências de intercâmbio e de liderança. Através da organização, recebíamos muitos Trainee internacionais e lidávamos com diversas culturas. Então, para mim, a melhor coisa que existe é essa troca de conhecimentos direta entre culturas! 
 

      Após ver que lá os guardas não andam armados e as casas não tem grades nem muros, vejo que o Brasil precisa investir mais em segurança. Na realidade, o povo brasileiro deve adotar mais honestidade, este é um fator que influenciará diretamente na qualidade de vida, além de melhorar o sistema educacional. Na Nova Zelândia, o aluno pode escolher no High School seis matérias que gostaria de estudar, (entre as opções estão fotografia, culinária, design, entre outros). Este fato torna a ida a escola algo muito prazeroso, e dá aos estudantes a oportunidade de se descobrirem melhor e testar o que realmente farão no futuro.

    Entretanto, gosto muito do carinho e receptividade dos brasileiros, estamos sempre animados e temos, inclusive, um dos carnavais mais famosos do mundo. Temos uma habilidade nata de se unir, seja através do futebol ou das decepções políticas, seja para festejar ou para protestar. Multidões aglomeradas não é algo que se vê com facilidade no exterior. Mas, gostaria também que não fosse só festa e alegria, e que as pessoas realmente se chocassem mais com os absurdos que cercam o Estado brasileiro. O ‘jeitinho brasileiro’ de tentar se dar bem, e a cultura de se atrasar em compromissos, é algo que eu gostaria que mudasse. A pontualidade das pessoas no exterior é algo que facilita muito a vida!



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