Paula Becker Soll, 23 anos.
Profissão: Estudante de Comunicação
Social: Publicidade – UnB.
O que pretende: trabalhar com
comunicação em uma área que me permita viajar.
Países que conhece: Argentina; Canadá; Estados Unidos; Peru; Portugal; México;Uruguai.
Moraine Lake, Banff National Park - Lake Louise, Alberta, Canada, 2012 |
Passei o período de um ano em Ontário no Canadá (julho/2012 a julho/2013) pelo programa Ciências sem Fronteiras. Lá, eu tive oportunidade de estudar inglês, fazer um semestre na universidade e trabalhar, então foi uma experiência muito rica neste sentido. Foi apenas um ano (um ano da minha vida), mas foi o MELHOR ano da minha vida, a melhor experiência que eu já tive. A ideia de voltar para o Brasil, para a vida real foi muito difícil. Quando eu pensava que tudo aquilo ia acabar, parecia que eu ia acordar daquele sonho. Então, foi a melhor coisa que eu já fiz.
Quando
se pensa em Canadá, eu imaginava lagos, ursos, frio, montanhas... Porém, esta
parte não é em todo o Canadá, localiza-se apenas na parte oeste do país (West). Eu conheci Vancouver, Banff e Jasper.
Lá é onde há essas montanhas cobertas de gelo. Eu vi ursos e outros
animais típicos canadenses. Para quem deseja conhecer mesmo o Canadá, sugiro ir
para lá. Também tive a oportunidade de no natal viajar para a parte francesa: Montreal e Quebec City. Nesta época estava nevando e foi a primeira vez que
eu vi a neve, então foi uma experiência de sonho (tudo branco, com casinhas
diferentes). Então, recomendo visitar a parte francesa também.
Stanley Park,Vancouver - Canada, 2012 |
A cidade que morei foi em Windsor, na Província de Ontario, que fica na fronteira com Estados Unidos. Eu fiquei na residência da própria universidade que estudei, era uma casinha de 3 andares, uma ao lado da outra. Em cada uma havia: 5 quartos individuais, 3 banheiros, uma cozinha e sala grandes, era parecido com uma república estudantil. Morei com um inglês, um alemão, um australiano e uma brasileira, todos estudantes de intercambio e fazíamos festas na nossa casa eventualmente.
Nas
horas livres, passei uma grande parte do tempo cozinhando, a academia era
livre, eu e meus amigos íamos sempre. Um outro passeio que adorava era
atravessar a Riverside (margem do
lago). Para mim, era uma das coisas mais gostosas passear por lá de bicicleta
ou a pé, pois era perto da universidade. A vista deste local é maravilhosa, dá
pra ver os prédios à noite de Detroit.
Daria para chegar andando aos Estados Unidos, mas eles não autorizam porque é
burocrático, todas as vezes que nós íamos para lá, precisávamos passar na
alfândega para a fiscalização. A vista de Detroit
é uma das coisas que eu mais sinto falta. Eu e os meus amigos gostávamos muito
de ir para este lugar e íamos também a Dowtown,
que tinha as baladas, uma ao lado da outra, nas quartas, sextas e sábados, eram
os dias que nós saíamos. Além disso, atravessávamos a fronteira para comprar coisas
mais baratas nos Estados Unidos naqueles shoppings Outlets imensos.
O
Canadá luta para ter uma identidade cultural, por ser um país cosmopolita, há
muitos imigrantes (árabes, indianos, chineses...). Em geral eles ganham
incentivos, e os canadenses tratam todos bem. Então, alguns aspectos culturais
de outros países foram trazidos para a cultura deles. Isso reflete em diversos
aspectos, inclusive na culinária, portanto é difícil ter uma comida típica, eles
têm costumes de alimentação. Há muita comida asiática e árabe. Lá é muito comum
o Shawarma, que é um pão com frango,
salada, parecido com um sanduíche, o Wrap.
Também tem poutine, um prato com
batatas fritas, queijo e molho. Uma
loja típica de lá é a cafeteria Tim Hortons, que é muito
parecida com a Starbucks, mas esta é
tipicamente canadense. São oferecidos Muffins,
Donuts, salgados e café. Eles têm muito orgulho do Tim Hortons, tem
em toda esquina e a um preço baixo. Um outro produto é o syrup feito de Maple leave,
que é como uma cobertura para as panquecas. É gostoso, mas eu não fazia muita
questão. É algo típico do Canadá, mas é um típico “forçado”, há um marketing em
cima disso para turistas. (A folha do Maple,
é o símbolo da bandeira Canadense).
Em
relação às curiosidades culturais, elas variam conforme o ambiente. Tem o
ambiente de trabalho, universitário e as festas. Por exemplo, no trabalho, os canadenses
trabalham por menos tempo, o expediente inicia as 8h30 da manhã e vai até as 4h30
da tarde. Isso é muito bom porque eles conseguem buscar os filhos na escola, no
verão fica claro até tarde, então ainda há muita coisa para fazer, mas no
inverno é o oposto. Constatei uma grande diferença entre os brasileiros e
canadenses na questão com o horário de almoço, pois o brasileiro valoriza muito
esta refeição. Lá eles não tem isso, cada um leva a sua marmita ou pede por
tele entrega e come em sua mesa, não costumam sair juntos.
Na
universidade, o aspecto cultural que me chamou atenção foi a diversidade. Há
estudantes de várias partes do mundo, principalmente muçulmanos, indianos e italianos.
Os canadenses são educados, mas eles são muito mais fechados que os
brasileiros, por exemplo. Então, nas festas é muito mais difícil fazer amizade,
mas eles gostam de imigrantes. Nas
festas e baladas, eles são muito rígidos em relação à idade permitida para
entrar, a mínima é 19 anos e eles sempre pedem a identidade. Um costume deles
são joguinhos de bebida, e eles não dançam muito. Uma outra diferença em
comparação com os brasileiros, é que nós cumprimentamos, beijamos e abraçamos
em público. No Canadá, isso é muito raro, eles são mais discretos nesse
sentido. O cumprimento lá é apenas com um aperto de mão. Outra questão que
notei, é que o país é muito rigoroso no controle do alcoolismo, não é permitido
beber na rua em hipótese alguma e não existem bares abertos na rua. Só pode
beber dentro das festas.
A
maior dificuldade que tive foi com o idioma, ainda que a adaptação seja a parte
mais gostosa, no sentido de aprender todo dia uma coisa nova, porém é um
obstáculo, pois muitas vezes hesitamos em conversar coma alguém por insegurança
de não dominar a língua 100%. No trabalho, quando tive que fazer apresentações
em público, o nervosismo foi muito maior. Então, o idioma é sempre um desafio que
é preciso combatê-lo diariamente. Uma
outra situação complicada que passei foi para realizar a troca de câmbio e eu
perdi muito dinheiro com isso, porque recebi a bolsa estudantil em Reais e para
transferir para o Dólar Canadense, o valor no dia estava muito alto. Então, a
dica que eu dou é o quanto antes a pessoa puder fazer a troca do cambio, melhor.
Como eu deixei para a última hora, acabei tendo prejuízo. O inverno também foi
um período muito difícil, o frio é uma situação estressante porque começa a
escurecer as 4h30, 5h da tarde, então é um ambiente mais depressivo. Porém, apesar
dos contratempos, nunca pensei em desistir, mas eu acho que essa é uma
característica minha, já estava lá e só queria isso, nada me fazia falta porque
estava muito feliz.
Fiquei
emocionada ao saber como o brasileiro é querido lá, porque eu convivi com muitos
outros estudantes brasileiros e quando saíamos em grupo, todos se apaixonam
pelos brasileiros, porque somos muito fáceis de fazer amizade. Eu acredito que
a experiência de sair do próprio país faz com que possamos aprender sobre nós
mesmos, sobre a nossa cultura. E foi isso que eu aprendi: que os brasileiros
são amigáveis e muito queridos.O
curso de inglês que fiz foi basicamente com chineses. A experiência foi incrível
e eu aprendi muito. Durante minha estadia no Canadá fiz amizade pessoas do
mundo inteiro, além dos brasileiros, franceses, italianos, europeus de modo geral
e australianos. Os canadenses foram os que menos eu conheci. Continuo mantendo
contato com todos e pretendo vê-los no futuro.
Apesar
de ter sido bem acolhida, notei que os norte-americanos em geral, sabem muito
pouco sobre a América do Sul, então era preciso driblar algum preconceito
diariamente, mas eu lidei com isso de muito bom humor, com muita ironia.
Entretanto, os canadenses são abertos a mudar a mentalidade, até porque eles
estão acostumados com imigrantes. No trabalho, fiquei muito feliz com as
pessoas terem sido tão carinhosas. Em geral, conheci pessoas incríveis, que me
ajudaram muito. Eu
ia para o trabalho de bicicleta, eu estava lá sozinha, pois querendo ou não, eu
estava lá e ninguém me conhecia. Eu tive que cozinhar, falar em inglês. Então,
eu acho que nesse sentido eu me sinto mais preparada, afinal tive que vencer
muitas barreiras, e a melhor parte disso foi a evolução que tive no idioma, mas
ainda acredito que sempre tem mais alguma coisa para aprender. Portanto,
pretendo ainda estudar outras línguas. Voltei pensando que o mundo é pequeno. A
sensação é que só quero viajar mais, por isso penso em ter algum emprego que me
permita viajar. Eu amo conhecer diferentes culturas, tanto que agora eu acho
que preciso disso. É muito incrível vermos o quanto somos semelhantes a muitas
pessoas, apesar das diferenças.
Falando
do Brasil após esta vivência, acredito que precisamos de mais autoestima, nem
tudo aqui é tão pior. Nos outros países ocorrem problemas também, mas eles
encaram isso com naturalidade. Eles acreditam neles mesmos, no governo e isso
falta para nós devido a diversos problemas como falta de infraestrutura no
trânsito, corrupção, porque o Brasil é rico, mas ninguém faz direito as coisas
e há o desvio do dinheiro. Por outro lado, temos do que se orgulhar, contatei
que nossas universidades públicas tem um nível muito bom. No Canadá, a universidade
onde eu estudei era particular, então querendo ou não, qualquer um pode entrar.
Vejo
que o Brasil está mudando, evoluindo, tanto que estamos recebendo mais
estrangeiros, isso é um bom sinal, o nosso clima é um dos melhores do mundo,
isso eu tenho certeza, apesar do calor, é incrível, temos sol todos os dias,
céu azul, e isso não tem lá no Canadá. Nós somos muito fáceis de fazer amizade.
Eu me orgulho disso e de estarmos sempre felizes, fazendo festas. O pessoal que
eu conheci lá dos brasileiros, eles são muito bacanas no sentido de serem
competentes, responsáveis, porque como não temos muita autoestima, sabemos que
precisamos estudar, nos esforçar, trabalhar. Só com o trabalho que conseguimos
as coisas. No Canadá, a vida deles é mais fácil. Lá se eles não trabalharem
direito, eles tem uma vida boa, uma casa boa. Aqui no Brasil é só com muito
trabalho, então acredito que criamos essa personalidade de lutadores, de
mostrar a nossa competência e competitividade. Então, falta mais isso de não
desmerecer o que nós temos aqui e analisar que pode mudar.
Jasper, Alberta - Canada, 2012
Veja mais fotos em: http://www.flickr.com/photos/108188765@N06/sets/72157637489003225/ http://www.flickr.com/photos/108188765@N06/sets/72157637489299156/ http://www.flickr.com/photos/108188765@N06/sets/72157637489812514/ |
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