segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Vivendo no Canadá por um ano pelo Ciências sem Fronteiras


Paula Becker Soll, 23 anos.
Profissão: Estudante de Comunicação Social: Publicidade – UnB.
O que pretende: trabalhar com comunicação em uma área que me permita viajar.
Países que conhece: Argentina; Canadá; Estados Unidos; Peru; Portugal; México;Uruguai.



Moraine Lake, Banff National Park - Lake Louise, Alberta, Canada, 2012

    
    Passei o período de um ano em Ontário no Canadá (julho/2012 a julho/2013) pelo programa Ciências sem Fronteiras. Lá, eu tive oportunidade de estudar inglês, fazer um semestre na universidade e trabalhar, então foi uma experiência muito rica neste sentido. Foi apenas um ano (um ano da minha vida), mas foi o MELHOR ano da minha vida, a melhor experiência que eu já tive. A ideia de voltar para o Brasil, para a vida real foi muito difícil. Quando eu pensava que tudo aquilo ia acabar, parecia que eu ia acordar daquele sonho. Então, foi a melhor coisa que eu já fiz.


    Quando se pensa em Canadá, eu imaginava lagos, ursos, frio, montanhas... Porém, esta parte não é em todo o Canadá, localiza-se apenas na parte oeste do país (West). Eu conheci Vancouver, Banff e Jasper. Lá é onde há essas montanhas cobertas de gelo. Eu vi ursos e outros animais típicos canadenses. Para quem deseja conhecer mesmo o Canadá, sugiro ir para lá. Também tive a oportunidade de no natal viajar para a parte francesa: Montreal e Quebec City. Nesta época estava nevando e foi a primeira vez que eu vi a neve, então foi uma experiência de sonho (tudo branco, com casinhas diferentes). Então, recomendo visitar a parte francesa também. 


Stanley Park,Vancouver - Canada, 2012
    
    A cidade que morei foi em Windsor, na Província de Ontario, que fica na fronteira com Estados Unidos. Eu fiquei na residência da própria universidade que estudei, era uma casinha de 3 andares, uma ao lado da outra. Em cada uma havia: 5 quartos individuais, 3 banheiros, uma cozinha e sala grandes, era parecido com uma república estudantil. Morei com um inglês, um alemão, um australiano e uma brasileira, todos estudantes de intercambio e fazíamos festas na nossa casa eventualmente. 


    Nas horas livres, passei uma grande parte do tempo cozinhando, a academia era livre, eu e meus amigos íamos sempre. Um outro passeio que adorava era atravessar a Riverside (margem do lago). Para mim, era uma das coisas mais gostosas passear por lá de bicicleta ou a pé, pois era perto da universidade. A vista deste local é maravilhosa, dá pra ver os prédios à noite de Detroit. Daria para chegar andando aos Estados Unidos, mas eles não autorizam porque é burocrático, todas as vezes que nós íamos para lá, precisávamos passar na alfândega para a fiscalização. A vista de Detroit é uma das coisas que eu mais sinto falta. Eu e os meus amigos gostávamos muito de ir para este lugar e íamos também a Dowtown, que tinha as baladas, uma ao lado da outra, nas quartas, sextas e sábados, eram os dias que nós saíamos. Além disso, atravessávamos a fronteira para comprar coisas mais baratas nos Estados Unidos naqueles shoppings Outlets imensos. 


    O Canadá luta para ter uma identidade cultural, por ser um país cosmopolita, há muitos imigrantes (árabes, indianos, chineses...). Em geral eles ganham incentivos, e os canadenses tratam todos bem. Então, alguns aspectos culturais de outros países foram trazidos para a cultura deles. Isso reflete em diversos aspectos, inclusive na culinária, portanto é difícil ter uma comida típica, eles têm costumes de alimentação. Há muita comida asiática e árabe. Lá é muito comum o Shawarma, que é um pão com frango, salada, parecido com um sanduíche, o Wrap. Também tem poutine, um prato com batatas fritas, queijo e molho. Uma loja típica de lá é a cafeteria Tim Hortons, que é muito parecida com a Starbucks, mas esta é tipicamente canadense. São oferecidos Muffins, Donuts, salgados e café. Eles têm muito orgulho do Tim Hortons, tem em toda esquina e a um preço baixo. Um outro produto é o syrup feito de Maple leave, que é como uma cobertura para as panquecas. É gostoso, mas eu não fazia muita questão. É algo típico do Canadá, mas é um típico “forçado”, há um marketing em cima disso para turistas. (A folha do Maple, é o símbolo da bandeira Canadense).


    Em relação às curiosidades culturais, elas variam conforme o ambiente. Tem o ambiente de trabalho, universitário e as festas. Por exemplo, no trabalho, os canadenses trabalham por menos tempo, o expediente inicia as 8h30 da manhã e vai até as 4h30 da tarde. Isso é muito bom porque eles conseguem buscar os filhos na escola, no verão fica claro até tarde, então ainda há muita coisa para fazer, mas no inverno é o oposto. Constatei uma grande diferença entre os brasileiros e canadenses na questão com o horário de almoço, pois o brasileiro valoriza muito esta refeição. Lá eles não tem isso, cada um leva a sua marmita ou pede por tele entrega e come em sua mesa, não costumam sair juntos.


    Na universidade, o aspecto cultural que me chamou atenção foi a diversidade. Há estudantes de várias partes do mundo, principalmente muçulmanos, indianos e italianos. Os canadenses são educados, mas eles são muito mais fechados que os brasileiros, por exemplo. Então, nas festas é muito mais difícil fazer amizade, mas eles gostam de imigrantes. Nas festas e baladas, eles são muito rígidos em relação à idade permitida para entrar, a mínima é 19 anos e eles sempre pedem a identidade. Um costume deles são joguinhos de bebida, e eles não dançam muito. Uma outra diferença em comparação com os brasileiros, é que nós cumprimentamos, beijamos e abraçamos em público. No Canadá, isso é muito raro, eles são mais discretos nesse sentido. O cumprimento lá é apenas com um aperto de mão. Outra questão que notei, é que o país é muito rigoroso no controle do alcoolismo, não é permitido beber na rua em hipótese alguma e não existem bares abertos na rua. Só pode beber dentro das festas.


    A maior dificuldade que tive foi com o idioma, ainda que a adaptação seja a parte mais gostosa, no sentido de aprender todo dia uma coisa nova, porém é um obstáculo, pois muitas vezes hesitamos em conversar coma alguém por insegurança de não dominar a língua 100%. No trabalho, quando tive que fazer apresentações em público, o nervosismo foi muito maior. Então, o idioma é sempre um desafio que é preciso combatê-lo diariamente. Uma outra situação complicada que passei foi para realizar a troca de câmbio e eu perdi muito dinheiro com isso, porque recebi a bolsa estudantil em Reais e para transferir para o Dólar Canadense, o valor no dia estava muito alto. Então, a dica que eu dou é o quanto antes a pessoa puder fazer a troca do cambio, melhor. Como eu deixei para a última hora, acabei tendo prejuízo. O inverno também foi um período muito difícil, o frio é uma situação estressante porque começa a escurecer as 4h30, 5h da tarde, então é um ambiente mais depressivo. Porém, apesar dos contratempos, nunca pensei em desistir, mas eu acho que essa é uma característica minha, já estava lá e só queria isso, nada me fazia falta porque estava muito feliz.


    Fiquei emocionada ao saber como o brasileiro é querido lá, porque eu convivi com muitos outros estudantes brasileiros e quando saíamos em grupo, todos se apaixonam pelos brasileiros, porque somos muito fáceis de fazer amizade. Eu acredito que a experiência de sair do próprio país faz com que possamos aprender sobre nós mesmos, sobre a nossa cultura. E foi isso que eu aprendi: que os brasileiros são amigáveis e muito queridos.O curso de inglês que fiz foi basicamente com chineses. A experiência foi incrível e eu aprendi muito. Durante minha estadia no Canadá fiz amizade pessoas do mundo inteiro, além dos brasileiros, franceses, italianos, europeus de modo geral e australianos. Os canadenses foram os que menos eu conheci. Continuo mantendo contato com todos e pretendo vê-los no futuro.


    Apesar de ter sido bem acolhida, notei que os norte-americanos em geral, sabem muito pouco sobre a América do Sul, então era preciso driblar algum preconceito diariamente, mas eu lidei com isso de muito bom humor, com muita ironia. Entretanto, os canadenses são abertos a mudar a mentalidade, até porque eles estão acostumados com imigrantes. No trabalho, fiquei muito feliz com as pessoas terem sido tão carinhosas. Em geral, conheci pessoas incríveis, que me ajudaram muito. Eu ia para o trabalho de bicicleta, eu estava lá sozinha, pois querendo ou não, eu estava lá e ninguém me conhecia. Eu tive que cozinhar, falar em inglês. Então, eu acho que nesse sentido eu me sinto mais preparada, afinal tive que vencer muitas barreiras, e a melhor parte disso foi a evolução que tive no idioma, mas ainda acredito que sempre tem mais alguma coisa para aprender. Portanto, pretendo ainda estudar outras línguas. Voltei pensando que o mundo é pequeno. A sensação é que só quero viajar mais, por isso penso em ter algum emprego que me permita viajar. Eu amo conhecer diferentes culturas, tanto que agora eu acho que preciso disso. É muito incrível vermos o quanto somos semelhantes a muitas pessoas, apesar das diferenças. 


    Falando do Brasil após esta vivência, acredito que precisamos de mais autoestima, nem tudo aqui é tão pior. Nos outros países ocorrem problemas também, mas eles encaram isso com naturalidade. Eles acreditam neles mesmos, no governo e isso falta para nós devido a diversos problemas como falta de infraestrutura no trânsito, corrupção, porque o Brasil é rico, mas ninguém faz direito as coisas e há o desvio do dinheiro. Por outro lado, temos do que se orgulhar, contatei que nossas universidades públicas tem um nível muito bom. No Canadá, a universidade onde eu estudei era particular, então querendo ou não, qualquer um pode entrar. 


    Vejo que o Brasil está mudando, evoluindo, tanto que estamos recebendo mais estrangeiros, isso é um bom sinal, o nosso clima é um dos melhores do mundo, isso eu tenho certeza, apesar do calor, é incrível, temos sol todos os dias, céu azul, e isso não tem lá no Canadá. Nós somos muito fáceis de fazer amizade. Eu me orgulho disso e de estarmos sempre felizes, fazendo festas. O pessoal que eu conheci lá dos brasileiros, eles são muito bacanas no sentido de serem competentes, responsáveis, porque como não temos muita autoestima, sabemos que precisamos estudar, nos esforçar, trabalhar. Só com o trabalho que conseguimos as coisas. No Canadá, a vida deles é mais fácil. Lá se eles não trabalharem direito, eles tem uma vida boa, uma casa boa. Aqui no Brasil é só com muito trabalho, então acredito que criamos essa personalidade de lutadores, de mostrar a nossa competência e competitividade. Então, falta mais isso de não desmerecer o que nós temos aqui e analisar que pode mudar.



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