domingo, 27 de outubro de 2013

Curiosidades culturais da Espanha

Carla Oller, 23 anos.
Profissão: publicitária; trabalha em uma consultoria de comunicação.
O que pretende: trabalhar no universo da comunicação.
Países que conhece: Alemanha, Espanha e Peru.



Casa Batlló, Barcelona - Espanha, 2010

Park Güell, Barcelona - Espanha, 2010

    Vivi durante 10 anos da minha vida na região da Costa Brava da Catalunya, em um povoado chamado Palamós, que fica a aproximadamente 100 Km de Barcelona. O que mais me cativou de lá foram as praias, porque na região que vivi há diversas praias, uma ao lado da outra e é muito bonito. A vegetação é de montanha e é possível andar pelo Caminos de Ronda, que significa caminho que ronda as praias. São acessos feitos para passar de um penhasco a outro entre as diversas praias pequenas ("calas") que vão se unindo ao longo do caminho.

    É importante ressaltar que a cultura geral da Espanha não é a mesma da Catalunya, mesmo sendo no mesmo país. Os catalães são bem diferentes dos espanhóis. Entretanto, o que me chama mais atenção nos espanhóis, no aspecto geral, é que a população é muito aberta, receptiva e extrovertida. A Espanha é famosa na Europa inteira devido às festas e horários. O espanhol come, sai para beber e dorme muito tarde. Há também o horário da Siesta, e o horário comercial se baseou nesse costume. Assim, ficou estabelecido que as atividades laborais iniciam das 9 as 14h, depois tudo fecha e reabre das 17 as 21h. 

    Sistema educacional: como morei na Espanha dos 8 aos 18 anos, pude conhecer bem o funcionamento do sistema educacional de lá: há os anos de primário (ensino fundamental) que vai dos 6 aos 12 anos; depois o estudante vai para o Instituto dos 12 aos 16 anos (ensino médio), que lá se chama ESO - Educação Secundária Obrigatória. E a partir dos 16 anos, o aluno é direcionado a escolher qual área vai cursar durante dois anos (exatas ou humanas). Este período é o bacharelado, você já vai encaminhado para a área que você quer estudar na universidade. No meu caso, eu estudei Humanas. Depois do Segundo de Bachillerato, você faz a prova que se chama seletividade, que é como o vestibular do Brasil. Após esta etapa, há o ingresso para a universidade. Quando você faz o exame, escolhe a área que gostaria de estudar e tem a opção de ir para qualquer lugar da Espanha. Há a nota exigida pelas universidades, e dependendo da sua pontuação, você é aceito ou não em determinado local.

    Para o estrangeiro há algumas opções. Entretanto, como todos sabem, atualmente a Espanha está em crise, então diminuiu muito o orçamento para bolsa de estudos, mas como a crise está no estágio final, acredito que haja bolsas de estudos, mas em menor número. Quem quer ir sem bolsa, também é possível, porque dependendo do curso e local, pode ser mais barato que algumas universidades particulares do Brasil. Mas há custos de manutenção, comida e tudo o mais. Então, quem deseja ir deve avaliar bem o custo benefício. Uma outra alternativa é o Erasmus, que é um programa de mobilidade para a Europa inteira, então se você estudar na Espanha, pode pedir o Erasmus para ir a qualquer lugar da Europa que tiver a sua área de estudos.

    Infraestrutura: na Espanha há muita opção de transporte, há uma boa infraestrutura, além da curta distância entre os países. É muito simples viajar de um país para outro. Também tem a mobilidade por trem. A pessoa pode comprar uma passagem que é programada para viajar por vários países. Além disso, há a opção de dormir no trem, assim dá para economizar com gastos de hotéis e ao mesmo tempo conhece vários países durante a viagem de trem.

    Curiosidade cultural: existe um aspecto que eu vejo muita diferença entre a cultura brasileira e a da Espanha, que é a questão da religião. Percebo que no Brasil as pessoas são muito ligadas à fé, há muitos jovens que vão para a igreja, que se manifestam, que acreditam, que gostam de manifestar sua fé, é algo de que as pessoas têm orgulho. Lá é bem raro este tipo de acontecimento, pois atualmente a cultura, no aspecto geral, acredita mais na ciência e pragmatismo.

    Outra diferença entre o Brasil e a Espanha é em relação às praias. As praias do Brasil possuem barraquinhas, comércio e diversos vendedores ambulantes. Para quem gosta da tranquilidade, as praias espanholas não tem este tipo de coisa, não há barracas, bares nem vendedores ambulantes, pois eles são proibidos por lei. Outro aspecto é que as praias da Espanha são conhecidas por ser permitido fazer topless, ou seja, as mulheres andam somente com a parte de baixo do biquíni, elas tomam sol, nadam, descansam sem nenhum tipo de problema e assédio. As pessoas lidam com isso com naturalidade, é bastante comum.

    Recomendações: a principal dica para quem vai viajar para lá é se planejar com tempo e se programar para o que quer visitar. Na Espanha as pessoas são receptivas. Barcelona é uma cidade que recebe milhões de visitantes e tem infraestrutura turística para recebê-los, há mais abertura de idiomas, de comunicação.

    Um lugar que é necessário conhecer são as famosas Las Ramblas de Barcelona, que hoje é um ponto turístico de referência. É uma rua larga, de grande movimentação que liga a Praça da Catalunya ao Porto Velho. O local é marcado por várias lojas, cafés, restaurantes, floriculturas e performances de vários tipos: mímicos, atores, músicos e estátuas de pessoa humana. As ruas estão sempre lotadas, principalmente de turistas durante o dia e a noite. Vale a pena visitar alguns locais como La Boqueria, o Grande Teatro do Liceu, a Praça Real, o Monumento a Colombo.
    Os espanhóis atendem bem o estrangeiro, mas nem todos falam inglês, pois não é um idioma padrão, não é comum. Mas no restante da Europa, os outros países adotam o inglês com mais frequência, mesmo sendo algumas pessoas mais fechadas, principalmente no Norte da Europa, mas como há muito intercâmbio turístico dentro da Europa, é muito comum ver pessoas de outros países.

    Na minha opinião, o Brasil ainda tem muito a fazer no sentido de atrair pessoas para ser mais explorado como um destino turístico, principalmente em relação a infraestrutura do sistema de transportes. Há a necessidade de melhorias nas estradas também. Deveria ampliar o sistema de trens e metrôs; os ônibus também têm muito a melhorar. Não só nesta questão, o Brasil tem um caminho a percorrer para crescer e evoluir.
    Nosso país precisa chegar a um ponto aceitável em relação à educação e à segurança. Na verdade, acredito que estes dois pontos estão ligados porque o fato de ter tanta marginalidade tem relação com a educação. O Brasil pode ter contribuído por ter tirado mais pessoas da pobreza e ter incluído educação, isso é quantidade. Mas a qualidade da educação ainda não é aceitável em comparação a outros países. Eu sinto muita falta de poder sair na rua tarde da noite e não sentir medo de ser assaltada ou sequestrada, porque são coisas que não passam na nossa mente na Espanha. Pode haver furtos em certos locais, mas a violência não é comum. Aqui, acaba sendo banal, de tanto que escutamos no jornal notícias sobre violência. Então, o Brasil precisa melhorar nesse sentido.
    Na minha opinião, o acesso à cultura no Brasil é muito elitizado, a maioria das opções são caras, não há muitas opções de museus, festivais e eventos culturais gratuitos. Na Espanha, há sempre feiras temáticas, tem uma que eu gosto muito, que é a medieval no verão, onde todos se vestem de medievais, trazem produtos artesanais, montam as barracas temáticas.  Há feiras de circo, com vários artistas da área, tudo de graça. Aqui não acontece com tanta frequência este tipo de feira, porém isso está mudando e a tendência é melhorar, como pude observar com a proposta do Picnik, um evento que reúne diversas pessoas em um local aberto, com feiras, exposições, danças, apresentações.
    Um aspecto que pode ser tanto positivo como negativo, em relação ao jeito do brasileiro em geral, é a fé de que tudo vai dar certo. Isso é uma faca de dois lados. O bom é porque as pessoas são muito positivas (até nas expressões: graças a Deus, se Deus quiser), o povo brasileiro tem muita fé de que tudo vai funcionar. Só que isso, por outro lado, faz com que algumas pessoas sejam acomodadas, não corram atrás, sem iniciativa para mudanças, falando de modo geral, é claro que há exceções. Mas temos também muito para nos orgulhar. Eu valorizo o clima daqui e as nossas comidas típicas, como a tapioca e a goiabada. Além disso, aprecio a variedade de frutas que temos facilmente. Na Espanha não há muitas opções, e isso é algo que eu dou muito valor.

Veja mais fotos em: http://www.flickr.com/photos/108188765@N06/sets/72157637486623785/





0 comentários:

Postar um comentário